A eleição do vereador Aluisio Braz (PMDB) para a presidência da Câmara Municipal revela uma agradável surpresa da política araraquarense. Braz - ou Boi, como é conhecido - é novato, foi eleito pelo voto de pessoas simples, a maioria oriunda do bairro onde trabalha como cabeleireiro, o Jardim América. Chegou à Câmara para compor a base de apoio ao prefeito Marcelo Barbieri, mas sem os vícios dos políticos tradicionais, e para assumir a presidência contou até mesmo com os vereadores do PT, além de superar um companheiro de partido e histórico da Casa, Elias Chediek. Qual o segredo de sua vitória, para muitos, inesperada?
O grande achado da plataforma de Boi para chegar à presidência foi o desejo e o compromisso de comandar um Legislativo forte e independente, como o leitor pode comprovar em detalhes na entrevista publicada nesta edição da Tribuna. Há tempos que a Câmara de Araraquara carece de um brilho próprio - as inúmeras pesquisas realizadas na cidade revelaram, ano após ano, como os eleitores depositavam cada vez menos esperanças na atuação dos vereadores. As decisões da Casa em todas as últimas legislaturas estiveram sempre pendentes da conveniência dos prefeitos que se valiam da maioria para estabelecer um rolo compressor para seus projetos seguirem adiante, como se a Câmara Municipal fosse uma dependência do poder executivo. Aliás, isto é o que acontece, permanentemente, no nível do governo federal e em quase todos os municípios brasileiros.
Ao afirmar que quer um Legislativo andando lado a lado com o Executivo, ‘como poderes fortes e independentes’, o novo presidente mata a charada: não pretende afrontar ninguém, dá seu apoio irrestrito ao prefeito, que além de tudo é de seu partido, mas não abre mão de uma atuação digna do Legislativo. É claro que esta postura de independência tem que ter mão dupla, pressupondo o fim das demandas clientelistas que os vereadores insistem, hoje em dia, em fazer junto ao executivo.
Aplicar estes conceitos na prática é o que este município precisa do ponto de vista político-administrativo neste momento. As formas para atingir esse nível de participação também parecem claras na visão do vereador. A começar pelo fortalecimento das comissões permanentes, qualificando as discussões especialmente dos temas mais polêmicos, solicitando assessoria técnica e jurídica para análise dos projetos de lei, seja convocando especialistas, seja através de parcerias com as universidades. Em outras palavras, a intenção é dar peso específico às decisões da Câmara e romper com o passado pouco abonador de andar sempre a reboque do Executivo.
No aspecto puramente político, aliás, Boi também mostrou suas habilidades. Como se declarou favorável à candidatura de Edinho Silva (PT) a deputado estadual na eleição deste ano, logo surgiu a especulação de que se tratava de uma jogada eleitoral a para conseguir o apoio dos petistas no pleito para a presidência da Câmara. Mais do que isso, seria o PT chegando ao poder pela portas dos fundos, com um posicionamento estratégico já com vistas à próxima eleição municipal. Rapidamente, Boi corrigiu os rumos do diz-que-diz e assegurou que sua postura quanto à campanha de 2012 segue a mesma: vai subir no palanque para apoiar Marcelo Barbieri se este for candidato à reeleição. Ao mesmo tempo, pede ao prefeito coisas básicas, como o envio dos projetos à Câmara com antecedência suficiente para sejam discutidos e não apenas aprovados a toque de caixa.
Para completar, uma frase do discurso da vitória na última quinta-feira reflete com transparência sua visão de política: "Venci sem apoio do partido e sem oferecer nada a ninguém, a não ser a pessoa que sou para os que convivem comigo. Não guardo mágoa e não tratarei ninguém como fui tratado nesse processo." Se todas essas expectativas se confirmarem e se o novo presidente tiver o comando efetivo do andamento dos trabalhos não cedendo às tentações das demandas partidárias com objetivos eleitorais de seus companheiros de mesa, aí então poderemos afirmar com plena segurança: há algo de novo na política de Araraquara.
Fonte: Por Jornal Tribuna Impressa