‘Jogo no time do Marcelo, mas tenho meus princípios’, diz Boi
09/12/2010 10:18
Aluízio Braz, o Boi, chora após ser eleito para comandar o Legislativo
Em entrevista exclusiva à Tribuna Impressa, o vereador Aluísio Braz, o Boi (PMDB), 39 anos, presidente eleito da Câmara Municipal, fala sobre o processo da eleição contra seu correligionário Elias Chediek Neto, que tinha apoio do prefeito Marcelo Barbieri (PMDB) e da Executiva Municipal do partido. "Em nenhum momento eu quis afrontar alguém com minha candidatura, mas apenas fortalecer a Câmara", disse. Confira os principais trechos da entrevista com o vereador Boi Cabeleireiro.
Tribuna Impressa - Como você começou a se interessar por política?
Aluisio Braz, Boi - Nasci no Jardim América e ajudava a organizar competições esportivas, no bairro, mostrando certa liderança. Quando havia um problema as pessoas falavam: "vai atrás do Boi que ele resolve". Fui ficando conhecido também devido à minha profissão, pois o cabeleireiro acaba sendo psicólogo e lida com vários segmentos.Sem pensar na política, eu ajudava as pessoas.
E como foi sua entrada na política partidária?
No ano 2000, o finado Celso Bueno, do antigo PL, precisava buscar candidatos e uma liderança do bairro me indicou. Eu não pedia voto, pois tinha vergonha. Sem fazer campanha alguma, tive 832 votos. Eu era coligado com o PMDB, mas ainda não conhecia o Marcelo [Barbieri]. Na eleição seguinte o [José Carlos] Porsani [PP] veio buscar candidatos no bairro e me chamou para o partido dele, na época o PFL. Tive 2.232 votos.
Nessa época você já conhecia o Marcelo Barbieri?
Eu já analisava mais a política, comecei a conversar com o Marcelo. Com 2.232 votos, se eu chegasse no Edinho [Silva (PT), ex-prefeito] e pedisse para fazer parte do Governo, poderia, mas nunca quis entrar assim, nunca gostei de estar amarrado com ninguém, ficar devendo favores, pois é difícil fazer política devendo favores. Você pode dever compromisso, o que é diferente. O Marcelo me chamou em 2007 e falou: "eu e você já perdemos duas juntos, queria muito você no meu partido". Eu estava mais preparado, fiz reuniões pelos bairros com o Marcelo, não tive vergonha de pedir votos e explicar porque estava pedindo. Eu cresci numa região que tinha dificuldade.Foi o momento de tentar mudar um pouco a realidade da região onde vivo. Eu ainda corto 45 cabelos aos sábados. É o jeito de não perder afinidade com as pessoas. Fui testado em duas eleições e na terceira fui para 3.344 votos, sem sobrenome famoso ou poder econômico.
E como você analisa o processo de eleição da Mesa Diretora?
Eu sei o quanto é duro conquistar espaço. Eu nunca seria ingênuo de achar que teria mais espaço que o Chediek no PMDB, que tem história no partido, é presidente do partido, tem laço familiar com o Marcelo e muita capacidade política. Esse processo serviu para o Marcelo ver que sou assim mesmo e o tempo vai mostrar que também sou leal a ele e que só queria ter direito de poder ser candidato. Eu respeito muita hierarquia e construí uma relação direta na política olhando nos olhos do Marcelo Barbieri, que é a maior liderança do PMDB de Araraquara. Como no caso do meu apoio ao Edinho Silva [PT] na última eleição. Eu respeito o Marcelo, jogo no time dele. Mas tenho meus princípios. Quando sentei com o Marcelo para entrar no partido não falei que ia mudar meus princípios. Eu disse ao Marcelo que eles não fizeram reunião da Executiva para fechar questão no apoio aos candidatos. Eu não iria apoiar o Roberto Massafera. Aí falei que não voto em candidato de fora e apoiaria o Edinho. Avisei a Executiva do partido e o presidente.
E como foi a formação do Grupo dos Cinco (G5)?
Os políticos mais experientes não têm a inocência que a gente tem e todo mundo que aspira chegar à política por idealismo, movido pelo coração, vê que hoje acabou um pouco isso. Então vimos que perdemos espaço e os mais velhos iam engolir a gente. Resolvemos nos unir para ter força política. O nosso voto separado era mais um, então criamos o Grupo dos Cinco (G5), com vereadores de primeiro mandato. Não chamamos a Márcia Lia e o Édio Lopes porque são de oposição e o João Farias não era político inexperiente. Decidimos que lançaríamos um candidato, foi o Tenente Santana quem sugeriu. Qualquer criança sabe, e não adianta fazer discurso falso, que o Chediek foi oposição durante oito anos do Edinho, moveu processo contra ele, bateu o tempo todo no PT. Qualquer candidato contra o Elias teria apoio do PT. Quando a gente assumiu, na primeira sessão já havia acordo entre Marcelo e Edinho, de que seria o Napeloso presidente, pois tinha boa relação com o PT e com o Marcelo, e depois seria o Elias. Mas a Casa não estava aceitando. O Marcelo falou então que seria importante ter candidato do PMDB. Reunimos os cinco do grupo e eu tive o voto dos outros três. Em outra reunião, há um ano, estávamos eu, o Serginho [Gonçalves (PMDB)], o Marcelo e o Elias e eu disse que seria candidato do grupo. O prefeito falou que tinha acordo com o Elias, mas que era legítimo e democrático.
Por que então houve intervenção do partido no final do processo?
Na minha visão, eles achavam que a candidatura enfraqueceria e eu acabaria retirando. O Marcelo podia até não querer apoiar um lado ou outro, mas tinha compromisso político com o Elias e era legítimo. Ele deve ter recebido pressões também. E começou a por em prática o compromisso, tirando primeiro o Santana do grupo, para o G5 despedaçar. Naquele momento, eu pensei: "o homem quando tira um revólver tem que atirar", porque se guardar de novo vai apanhar com o revólver. Bati o martelo e pensei que mesmo que tivesse só meu voto iria até o final. E aquele posicionamento fortaleceu o grupo. Em nenhum momento liguei para o Edinho e falei "eu te apoiei e agora você vai me apoiar para presidente".Há um mês, quando começaram esses boatos, disse ao Marcelo que estarei em seu palanque em 2012, pra deixar tudo claro. Minha candidatura foi caminhando com os quatro por um bom tempo. Então a Márcia sinalizou simpatia pela candidatura, viu que poderia ser um caminho novo para a Câmara. Se agiu com motivação política ou não é algo pessoal dela. Mas em nenhum momento falou que ia trazer o PT, mas queria que eu fritasse o Marcelo. Ela agiu com muita lisura.
Quais são seus projetos para a nova Mesa Diretora?
A Câmara e a Prefeitura devem caminhar juntas, mas respeitando um ao outro. O prefeito tem que por em seu imaginário que os projetos devem chegar na segunda-feira e não na terça, porque isso vai o fortalecer, mostrar respeito pela Câmara. Nos dois anos de Marcelo, quando os projetos chegavam em cima da hora, o discurso da nossa base era que antigamente era assim também. Isso é um desrespeito para quem quer trazer a população de volta à Câmara. Se era assim antes, por que os eleitores elegeram oito vereadores novos? Qual é o demérito de pedir que o prefeito encaminhe 24 horas antes os projetos e que as comissões sejam fortalecidas? Eu sei que tem torcida contra e a favor, mas, se eu ficar perdendo meu tempo brigando com o prefeito para ver quem estava certo ou errado no processo, vou atrapalhar o prefeito e ele vai me atrapalhar. Eu não obriguei ninguém a votar em mim, só queria mostrar para os outros políticos que vierem, se eu não estiver aqui no próximo mandato, que eles podem ser candidatos sim e não pode ter acordo ou pressão para retirar candidatura.
Como o grupo conquistou o voto de Juliana Damus?
Na minha leitura, a Juliana é uma vereadora com potencial enorme, mas assumiu numa Casa com 21 vereadores, muitos antigos. Não houve renovação como teve agora. Não tinha ninguém querendo mudar as coisas. Sabe qual foi a moeda de troca com a Juliana para ela aceitar ser minha vice-presidente? Ela disse que queria muito participar ativamente da administração da Câmara, porque está se formando em administração e quer mostrar para a cidade seu potencial na área. Isso para mim é maravilhoso.
Quais são seus planos para o futuro?
Eu saí de 800 votos para 3.200 e, se não entrasse, me dariam 4.500. A população queria me dar uma chance, por questão de honra. Sem demagogia, meu projeto político é ser reeleito pelo trabalho. Quero que as pessoas achem que valeu a pena ter votado em mim e queiram votar de novo. Não digo que quero ser deputado ou prefeito, pois quando entrei não pensava na possibilidade de ser presidente da Câmara.
Fonte: Araraquara.com
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